A exposição “Múltipla de múltiplos”, que inaugura a galeria Carbono em São Paulo, é uma curadoria que propõe um profícuo conceito do gênero de múltiplo, prática hoje muito comum da produção de arte contemporânea, porque permite reunir grande diversidade de artistas, obras, linguagens e suportes e porque a exposição – assim como os múltiplos, em particular e por princípio – propõe maior amplitude do acesso público à obra de arte.
Muitos artistas já abordaram a importância social dos trabalhos artísticos executados em série, como Duchamp, Man Ray, Max Bill, Joseph Beuys e Andy Warhol, sempre ressaltando que as tiragens não eliminam a experiência espiritual da obra única, mas, ao contrário, constituem uma estratégia prodigiosa de disseminação dos seus efeitos.
Hoje, as edições assumem um caráter mais pragmático e menos conceitual, conservam um essencial protagonismo de disseminação da ideia artística.
Produzir um múltiplo é projetar a obra além dos aspectos fetichistas e ritualísticos do trabalho do original, assinando-se com ênfase a moderna mudança de visão do individualismo contemporâneo e, sobretudo, incrementa a capacidade da arte de se tornar uma experiência mais democrática de cultura.
O múltiplo não coloca em jogo apenas o trabalho do artista e uma mercadoria ou valor mercadológico, mas favorece a integração de novos públicos no campo de imagem, apenas traz consigo a consciência de que esse valor foi transformado em algo mais acessível ao público.
O múltiplo é a obra que se expande e se renova, indo encontrar-se com outros olhares e diferentes formas de estar no mundo, mantendo intacta sua força artística.